31 julho, 2012

Odeio quando o horizonte fica atrás,

Nas minhas costas.

Viro o tempo todo querendo vislumbrar o infinito,

Que meus olhos pequenos jamais deixarão de buscar.

Que agonia não poder admirar.

Que agonia não mirar a vida fora de mim, fora dos meus olhos.

A beleza vai além do que posso ver,

Sei disso. 

Mas ainda assim quero ver...

Foto divulgação internet

Santidade...

Santidade
            

E chega o momento de dizer adeus sem nenhuma palavra.

As lágrimas descem pela minha face, chegando à minha boca, mais salgada que a água do mar, mistura-se com minha saliva e deixa um gosto cítrico dentro de mim. Penso em beber algo, talvez um café e pensando que o café era sua bebida preferida. Desisto de beber, desisto de querer mudar o momento estático da nossa despedida. Talvez seja somente minha, mas talvez você me veja de algum lugar. Gosto de pensar que Deus permite isso.

Nos momentos de praxe para o fechamento eterno, retorno lá no nosso começo de perguntas santas e respostas prontas de alguém que aos meus olhos, tudo sabia ou sabe. Tudo objeta de um jeito particular e com um humor que me encanta e me acompanha até aqui, nesse momento.

Se eu fosse forte o suficiente te pegaria no colo e sairia correndo como uma onça faminta que corre atrás da presa. Não posso, estou frágil, estou pensando em sua resposta para a pergunta que faço em pensamento: Por que você já vai? Tão cedo, tão logo? Meu adágio responde com descrição exata de um minuto transformado em uma vida inteira: A sua vida. Aquela que plantou árvores; pescou mais peixe que qualquer pescador profissional; contou histórias de pessoas reais e alegrias verdadeiras; que ajudou o próximo sem nunca deixar saber que era você era você o ajudador; que viajou para uma aventura crucial e ao mesmo tempo banal, banal para ti, crucial porque te levou daqui. Maldito acidente!

Mas como você sempre falava, a vida é breve e a morte não dorme e quem nos leva, aguenta o peso e acerta a hora, sem mais, sem menos. Enquanto aceso eu mesmo me carrego, ninguém sabe mais da gente do que a gente mesmo. É assim que se vive até o momento que alguém precisa nos carregar. O que te leva, não são as pernas, mas as mãos que sempre querem tocar o concreto.

O toque que damos é o que fica. Pensando, pensando cheguei à conclusão que mais uma vez você estava certo, agora que não são as suas pernas que te leva, mas as mãos dos amigos. Eles choram, estão todos tristes.

E o adeus que sua boca fechada me fala, sem nenhum som, sem nenhuma expressão me deu as melhores palavras que pude ouvir. Porém, minha maior angústia é saber que não fui nem a metade daquilo que você foi para mim. Pensando, pensando, sei o que você me diria: Seja feliz!

E como lhe dar adeus, sem morrer também?

Pensando, pensando me respondo: Aprenda a sorrir com a alma, essa seria a sua resposta. Então seco as lágrimas e sorrio sentindo dor, muita dor, mas você demonstraria por mim a mesma e viva imagem de um amor eterno, porque vivemos o mais próximo da santidade: pai e filho.

 




24 julho, 2012

Bicharada

Um dia a gente acorda e na verdade não quer acordar. Os olhos pesados, o corpo mais ainda, parece que dentro de nós mora um elefante.

Atravessamos o dia como quem atravessa o deserto, arrastando-se, nada e ninguém cruza o caminho, e se cruza não faz menção de melhorar, pelo contrário, parece que sabe que estamos fora de casa, fora de segurança. Ou talvez nossa curta paciência colabore com a certeza de que o dia não está pra peixe, não está para nada além do término enfadonho daquilo que não somos.

Não somos zoológicos, somos gente, às vezes carente, às vezes crente. Ainda que tudo seja esquecido, não podemos esquecer de que um elefante é grande demais para viver em nós. No mínimo um coelhinho, ou uma formiguinha.

Têm bichos-gente que nos atenta para os menores dos problemas e tudo que fazem é para perdermos a vontade de lutar, e nos transformam em pesados passantes.

Às vezes esquecemos que podemos até voar – isso quando sabemos o bicho que existe em nós pode ter asas e voar.








18 julho, 2012

Cidade...



Andei para as bandas de lá,
como banda de cidade pequena,
meu coração em compasso com
meu passo seguiu em marcha lenta.

Andei para as bandas de lá,
como se lá fosse lugar comum,
caminhando como quem conhece
bem a terra, e mesmo assim
encantada com os laços eternos.

Andei para as bandas de lá,
lugar distante e quieto demais,
Chorei sem pranto,

Chorei sangue.

Andei para as bandas de lá,
e as lápides grandes e pequenas, 
me mostravam que somos finitos:
a morte não distingue nenhum passo, 
e tanto faz a banda que passa,
A cidade em silêncio dorme e espera.




Foto divulgação internet

17 julho, 2012

Rachaduras





Senti uma dor em entrar em casa e não te encontrar. Vi a sua poltrona vazia; o cachorro com um olhar distante; as paredes com a tintura gasta e rachaduras mostrando o desgaste do tempo; os cômodos vagos sem sua presença física. Busquei em cada detalhe algo de você e nada tive. 

       Acordei com o vento chorando alto, como quem fala sem se deixar entender. Levantei-me, desfilei na rua deserta, sentei-me no murinho da escola em frente à nossa casa, aquele cantinho que você tanto gostava de ficar observando os passantes. Não sei ao certo quanto tempo fiquei ali, me colocando em seu lugar, lembrando-me dos seus gestos, da sua postura.

Senti-me dono da rua, mas não dono da vida, sua vida que se foi e me deixou sozinho. Nada aqui é a mesma coisa sem você. Nada aqui faz sentindo quando todo sentido é o que mais me faz falta.

Percebi que a paz que reinava em casa, não mais existe. Cada um de nós parece carregar um mundo nas costas, de um peso anormal, não parecemos mais como aquela família feliz. Estamos como as paredes gastas; estamos alheios aos sofrimentos de cada um. Não existe linguagem, não existe um traço a seguir, apenas seguimos com nossas sacolas cheias de saudades e com a falha de não falar mais a mesma língua. São tantas as diferenças que adquirimos entre irmãos, filhos dos mesmos pais, mas que hoje, sem você na cabeceira da mesa, parecemos somente estranhos dividindo o mesmo pão.

05 julho, 2012

Quando

Quando me tiraram o chão, aprendi a voar.
Quando choro, rego flores.
Quando perdoo, esqueço a mágoa.
Quando quero, busco.
Quando amo, amo.
Mas quando esqueço, esqueço.








Desperta...




Desperta em mim alguma coisa, não como algo que é dado e depois tomado.
Mas sim como planta com raiz, como flor que desperta no jardim cheia de si, que precisa ser cuidada, regada.

Desperta em mim o seu mundo. Deixa-me entrar pela porta da frente, não arrume nada, me deixa ver como és, sem artifícios, sem moldura, sem pintura, sem disfarce.

Desperta em mim o desejo de arrumar a casa, preparar e sentar à mesa, e deitar na sua cama.

Desperta em mim a beleza simples, de cara lavada, de pés no chão, cabelos soltos.

Desperta em mim o desejo de viver mais cem anos de mãos dadas com a sua.

Desperta em mim a sede que não é de água.

Desperta em mim o voo sem asas.

Desperta em mim o amor.