01 novembro, 2012

Corrente literária: O que a noite nos reserva? - Solidão -



 

 

Quando você se foi e me deixou a pé na estrada empoeirada, o sol já se punha na baixada da montanha e a lua sorridente mostrava que estava pronta para se apresentar, embora fosca, mas grande, muito maior que eu, muito mais dona da situação. Fiquei com a mudança das nuances.

Pensei o que fazer quando não há o que fazer, somente observar o quão forte a noite me faz. Desatei meu riso cínico com os cabelos tão soltos quanto eu. Conforme a noite ia se instalando, minha sombra ia aumentando, parecendo prússica de tão ácida, a única semelhança era a imensidão do silêncio.

Ninguém aparecia, ninguém me via; vaguei feito assombração. Cansei, parei em uma curva, lamentei por não existir contramão.  Não existiam marcas de ir e vir, nenhuma sugestão. Ainda assim, à noite na minha companhia, tão minha, tão eu, parecíamos únicos. Desde então, à noite me reserva solidão.  Uma solidão a dois, eu e ela, numa cumplicidade calada, mas falada no meu ínfimo. 

Vi-me como sou, sem retentiva, mas tão acessível ao meu próprio coração, com uma certeza que posso passar o dia esquecendo que você não me espera, mas a noite será minha insólita ilusão, talvez porque eu queira ser a sua espera, talvez porque à noite abafo meu grito ou derramo as cores de fúcsias.

 

Minha esperança é que a noite nos reserve o mesmo pensamento:

Que você pense em nós.


Foto divulgação internet