17 dezembro, 2012

O Tamanco


Como a maioria das pessoas fazem no final do ano, nós do Caap também fizemos: saímos para jantar. Cheguei a casa correndo tomei banho, peguei uma blusa emprestada da minha filha, coloquei uma calça jeans, que é comprida demais e não fica bem com sapato baixo. Catei um tamanco que tenho há pelo menos 10 anos (sim, tudo isso!), mas é lindo, pois me deixa mais alta e, claro, isso favorece qualquer mulher. O incrível é que antes ele me machucava, mas agora não, pelo contrário, me dava uma sensação de leveza...

Como é bom estarmos entre amigos, ainda mais para comer, rir... E lá estavam minhas meninas: Marina, Simone e Ana Paula, e conosco estavam também meu marido, Miguel, o Altinho, digo Valtinho, Edilson e um amigo da Simone.

Do estacionamento para o salão do restaurante tem uma escada que subi tranquilamente com meu tamanco lindo.

Conversa vai, conversa vem, fomos nos servir no buffet e novamente meu caminhar foi tranquilo, leve, tipo assim "Gisele Bündchen".

Logo depois de comermos chamei as meninas para irmos ao toalete e a Ana Paula, com aquele par de "zóios" que tem, disse calmamente:

 Dri, seu tamanco está descascando!

Quando abaixei os olhos vi aquilo. Meu Deus! Parecia que eu havia chutado todas as pedras do caminho de uma vida inteira. Medonhamente meu tamanco estava se desfazendo. Parecia que eu andava e eles afundavam (essa era a leveza que eu antes sentia). Saiam lasquinhas pelo chão.

Pedi para uma amiga ficar na minha frente e a outra atrás, como se isso escondessem os meus pés. Sabe aquela sensação que todo mundo ali olhava para mim, ou pior, para os tamancos? Eu, logo eu, que prezo os sapatos. Como pode acontecer isso?

 

Não preciso dizer quanto minhas amigas riram. Mas eu que não sou de entregar as chuteiras, digo os tamancos, aproveitei o resto da noite.

Um brinde aos amigos e aos sapatos!





06 dezembro, 2012

Corrente Literária: Saudade

Corrente Literária: Saudade

 

O que faço com essa ausência, com a falta de você?

Onde escondo minha dor?

 

Espio pela janela o jardim sendo tomado pelo mato e te vejo ali, fincado como planta sem vida aparente, mas com raízes profundas na terra, raízes profundas em mim. O soluço trava minhas palavras, apenas meus pensamentos falam. Falam coisas que não falamos, coisas que a vida nos deu tempo para ser e esquecemo-nos de dizer, esquecemos que a vida a qualquer hora pode ser substituída pela não vida. Por mais que eu tenha feito; dito, te amei pouco, fiz muito pouco tamanho o seu merecimento. Hoje me pergunto: por quê?  Não tenho contrição, mas tenho falta dos momentos em que sua palavra me apoiava, me repreendia, me alavancava, alcançava...

 

Muitas vezes em momentos decisivos, procuro pensar como você pensava e como agiria e isso me causa um suplício maior que eu, simplesmente porque não penso como ti, não com a sua sabedoria, com o seu jeito santo de olhar e ver, falar e sentir. Muitas vezes procuro no outro um pouco da sua aparência, mas nada se compara com sua beleza, nada e ninguém chegam naquilo que você foi, meu pai.

Sinto em minha boca um gosto rascante e um aperto no peito quando me lembro de que a cabeceira da mesa de jantar está vazia. Penso que voltar pra casa, nossa casa, é sentir que ela é muito maior sem você e muito pequena sem nós.

Saudade é a pessoa ficando mais longe e a dor ficando mais perto.